Gasto com educação no Brasil é semelhante ao de países desenvolvidos; falhas devem-se à gestão

Um aluno de escola pública em Sobral, no interior do Ceará, custa metade que um estudante da rede municipal de São Paulo, porém sabe mais matemática e português no 5º ano do ensino fundamental, segundo avaliações recentes do governo federal.

O caso da cidade cearense tem sido citado como exemplo de que, em educação, o montante de investimentos não é tudo.

Nas últimas semanas, o aumento dos gastos tem sido apontado como saída para a melhoria do ensino em resposta à insatisfação manifestada nas ruas.

"Dinheiro para educação é importante, mas não adianta dobrar os investimentos e não melhorar a gestão dos recursos", diz o economista Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central.


Alunos de escola pública na Mooca, em São Paulo

O pesquisador Naercio Menezes, do Insper, que tem estudado as políticas e o desempenho educacionais de Sobral, concorda:

"Acho temerário dizer que mais gastos vão necessariamente melhorar a qualidade da educação no Brasil. É vender uma falsa ideia".

A discussão ocorre em um momento em que o governo tenta destinar à educação 100% dos royalties gerados pelos campos de petróleo do pré-sal.

Há também em debate uma proposta para aumentar os investimentos do setor público com educação de 5,3% do PIB (Produto Interno Bruto) para 10%.

O nível atual de gastos é próximo ao patamar de 5,4% do PIB registrado pelos países da OCDE (grupo que reúne, principalmente, países desenvolvidos).

"Esse dado é um bom indicador de que o Brasil não gasta pouco com educação", diz Samuel Pessôa, colunista da Folha e pesquisador da FGV.

GASTOS DESIGUAIS

As principais falhas na área educacional no Brasil, segundo pesquisadores, estão relacionadas à má distribuição e à gestão ineficiente dos recursos.

Os gastos públicos com estudantes universitários ainda são, por exemplo, mais do que cinco vezes maiores do que com alunos da educação infantil, embora a diferença tenha caído nos últimos anos.

Estudos indicam que o foco na pré-escola é primordial para reduzir a distância intelectual que tende a separar os alunos de diferentes níveis sociais (medidos de acordo com o grau de escolaridade das mães).
Os pesquisadores James Heckman (ganhador do Nobel de Economia) e Flávio Rezende Cunha mostraram que boa parte da defasagem de desenvolvimento cognitivo existente na adolescência nos Estados Unidos vem desde os cinco anos.

"A educação infantil e os primeiros anos do ensino fundamental são os que mais precisam de investimentos", diz Menezes, do Insper.

Segundo ele, o município de Sobral teve um salto na área educacional nos últimos anos depois de adotar medidas para monitorar de perto a evolução dos alunos na alfabetização.

BÔNUS

Outra política foi alocar os melhores professores para os alunos que apresentam piores desempenhos, além de pagar bônus para escolas e profissionais que conseguem os melhores resultados.

Entre 2005 e 2011, a nota média dos alunos do 5º ano do ensino fundamental da cidade em matemática na Prova Brasil (exame do governo federal) saltou de 170 para 270, segundo Menezes.

Para a mesma série, os estudantes do município de São Paulo atingiram pontuação de 197 há dois anos.

Enquanto Sobral gasta cerca de R$ 3.100 por aluno, na cidade de São Paulo o dispêndio é de R$ 6.000.

Segundo o economista Cláudio Ferraz, da PUC-Rio, a má gestão e a corrupção têm forte impacto no rendimentos escolar.

"Os investimentos são importantes. Mas não adianta aumentar os recursos aplicados em educação antes de atacar esses problemas", diz.









Editoria de Arte/Folhapress












 

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